sábado, 21 de novembro de 2020

SOBREVIVÊNCIA

                                                              ( Victor Hagea )

 

                                              Já confundi anjos com monstros
                                              porque não tinham asas.
                                              Já corri de muitas sombras
                                              sem perceber que eram minhas.
                                              Já me assustei com a noite
                                              só por ser minguante a lua

                                              Já tive medo, bem sei,
                                              de me ferir em caminhos
                                              vestidos de escuridão,
                                              desconhecidos e duvidosos

                                              Mas empatados ficaram,
                                              meu medo e minha coragem

                                             O medo, respeitei,
                                             colocando luz nos telhados
                                             enquanto para ele sorria.
                                             A coragem, não permiti que desmaiasse,
                                             ainda que me tentassem abraçar
                                             os galhos secos das árvores outonais,
                                             o choro do vento no rigoroso inverno,
                                             os reflexos em estraçalhados espelhos...
                                   
                                             Meus sapatos de solado forte,
                                             raízes indomáveis,
                                             me protegeram da lama e das pedras
                                             e me segurei nas estrelas para alcançar o cume
                                             de ilusórias  montanhas,
                                             levando no coração
                                             o Bolero de Ravel

                                             Se existe loucura nos passos,
                                             a minha vivifica os meus
                                   

                                                                Marilene



49 comentários:

  1. Mas empatados ficaram,
    meu medo e minha coragem

    Boa noite de sábado, querida amiga Lena!
    Os versos que recortei acima me definem no meu eu real.
    Como Clarice, "tenho medos bobos e coragens absurdas"...
    Seu poema é de uma profundidade ímpar.
    Também me assustei, assombrei e cá estou... Porque, em minha loucura, "metade de mim e Amor e a outra também", como Montenegro...
    Adorei.
    Tenha um ótimo final de semana abençoado!
    Bjm carinhoso e fraterno

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    1. Roselia, querida, você sempre se guia pelo amor e pela fé, companheiros de vida que nos ajudam a transpor muros e a navegar em bravios mares. Muitíssimo obrigada pelo comentário. Sou fã de Montenegro. Bjs.

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  2. Gostei tanto destas palavras! Parabéns por saber tão bem dizer aquilo que também por mim perpassa.

    Beijinhos.

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    1. Oi, Fá!! Fico feliz que tenha gostado. Grande abraço, querida!

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  3. Tu és simplesmenteDEMAIS! Adorei e quem não teve medo pelos caminhos, quen não fez confusões/ Importa é termos esse solado grosso e forte que nos faz por cada terreno caminhar...Podemos até nos afundar um popuco, mas jogamos a lama pro alto e saímos...beijos, chica

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    1. Solados preciosos, Chica! Não impedem que nos sujemos, mas nos ajudam a chegar. Grande beijo!

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  4. Poema deslumbrante que me fascinou ler. Pura inspiração e criatividade poética.
    Lindo demais.
    .
    Bom fim de semana

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    1. Muitíssimo obrigada pela gentileza do comentário, Ricardo.

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  5. As asas como marca dos anjos.
    Seja qual for a sua forma
    😊
    Gostei

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    1. Precisam sempre ser fortalecidas rss. São preciosas, poeta. Abraço.

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  6. Belissima poesia que nos a dimensão das fragilidades e das fortalezas do ser humano!
    Adorei sua poetica e inspiração!!Parabéns!!
    Beijos!

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    1. Muito obrigada, Vilma. Já que temos que caminhar, que alimentemos a coragem, sempre. Bjs.

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  7. Encantadora poesía con un mensaje muy interesante y un manejo de creatividad genial. Abrazos amiga

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  8. Oi Marilene, belíssimos versos que refletem com rigor a complexidade das almas humanas e portanto de cada um de nós frágeis seres humanos...quem não sentiu o tormento do medo e quem na hora do desespero não revelou uma coragem que nem sabia que tinha? Inspiradora a citação do bolero de Ravel na dinâmica de interpretação.
    Um abraço

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    1. Guaraciaba, querida, nossos caminhos não são sempre iluminados. Por vezes, temos que superar essa natural fragilidade, para vencer os medos e as quedas. Gosto muito do Bolero de Ravel. Bjs.

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  9. Gostaríamos que a vida fosse um mar de rosas, mas a verdade é que enfrentamos muitas vicissitudes. E, neste belo poema, interagem o medo e a coragem. E as estrelas como meta.

    Muito bem, amiga Marilene.

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    1. Fico muito feliz com sua presença e comentário, Teresa. Muitíssimo obrigada. Bjs.

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  10. Ah, não fosse esta incerteza do próximo passo,
    não fosse este vazio, que invade as noites a sós,
    não fosse esta onda de violência, que causam pesadelos terríveis,
    nosso caminhar seria macio, como em areias finas de uma praia, onde
    uma brisa vinha tocar nossas faces com mãos de anjos.
    Mas seguir é preciso nesta sobrevivência plena de arte, mas há dor.
    Belo trabalho Lena e feliz semana leve e alegre.
    Meu abraço mineiro de flor.

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    1. Meu poetamigo, que poético e belo comentário! Muito obrigada pelo carinho de sempre. Grande abraço.

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  11. Marilene
    seus poemas sensiveis e cheios de sabedoria.
    a vida nem sempre é como a pintamos, por vees temos de conversar com nossos anjos que nem asas tem, e que de anjo muito menos.
    é a vida!
    belo poema.
    Boa semana
    beijinhos
    :)

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    1. A vida e as incertezas que permeiam nossos caminhos. Obrigada, querida, pelo constante estímulo. Bjs.

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  12. Como um hino de glória!
    Um poema escrito com assertividade e segurança, num tempo em chovem mo mundo
    gotículas mortíferas...
    E vamo-nos equilibrando entre o medo e a coragem...
    Grata pelos bons momentos de leitura...
    Uma boa semana, Marilene. Bjs
    ~~~~~

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    1. Peço desculpa pelos lapsos... Corrijo... 'em que chovem no mundo'...

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    2. Majo, querida, muitíssimo obrigada por suas gentis palavras. Sabe que esses lapsos de grafia nem percebemos ao ler! Bjs.

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  13. Marilene, li teu poema e senti que deixei escapar uns sorrisos no final! E sabes por quê? Porque está lindo demais, certeiro, verdadeiro, veio lá do fundo da alma, menina!! Narras um caminhar... bonito, corajoso e de quem está pronta para enfrentar as adversidades que a vida nos presenteia. E tanta gente que se queixa, que não vai à luta!

    "Mas empatados ficaram,
    meu medo e minha coragem"

    Que belo andar, amiga!
    Um beijo, uma boa semana!
    Aplausos!!

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    1. Querida amiga, seus comentários são sempre inspiradores. Eu lhe sou muito grata por esse constante carinho. Bjs.

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  14. Não se pode ter medo da própria sombra, minha amiga. O medo paralisa,
    quando de terror se faz. Mas ele é um
    alerta essencial para a nossa sobrevivência. Não fosse o medo e faríamos as maiores locuras sem prever as consequências. Ficaríamos desarmados perante o perigo.
    Por isso, gostei muito desta coragem,
    da determinação a enfrentar a vida.
    E dos passos dados na segurança do caminho. Bem-hajam as estrelas...
    Boa noite e bj.

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    1. Muito obrigada, Luís. O medo paralisa, realmente. Mas nos faz buscar, lá dentro, a coragem necessária para prosseguir. Abraço.

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  15. Taí, me deu vontade de dançar
    com você e nem precisava ser
    de Ravel para isso.
    Um beijo dançante pra você.

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  16. Inoue e escrevo principalmente sobre exposições e peças teatrais. Novos amigos são bem vindos, quero conhecer o seu conteúdo e te convidar para seguir o meu Blogger.
    https://andreia-inoue.blogspot.com

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  17. Boa tarde Marilene querida
    Considero o medo um antídoto da mente, ao pensarmos agir pelos impulsos, o medo nos toma pela mão, ai paramos pra pensar.
    Versos intensos e sábios que gostei de ler e aplaudo, ler seus escritos amiga é banhar-se nas águas da poesia.

    Boa semana de paz e alegrias.

    Bjss

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    1. Oi, querida, que gentil seu comentário! Muitíssimo obrigada! Bjs.

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  18. Belissimo Poema Marilene! Te felicito!

    Um abraço!

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  19. Respostas
    1. O medo também é caminho, pois costuma nos dar força para fazê-lo pó. Bjs.

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  20. Palavras que testemunham bem a luta pela sobrevivência,
    escudando-se a coragem nos resquícios implantados
    nos valores e enfrentando os medos, sejam eles reais
    ou criados pela nossa imaginação.

    Sempre a admirá-la, minha amiga.

    Beijo
    Olinda

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    1. Olinda, querida, por vezes ele não tem respaldo, realmente. Nossa imaginação é fértil. Muitíssimo obrigada pelo estímulo e pelo carinho. Bjs.

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  21. Menina, você esbanja poesia! As analogias são de extrema elegância, Marilene. Enfim , a loucura adoça a humanidade.... Grande beijo.

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    1. Beto, fico honrada com suas palavras. Muitíssimo obrigada. Bjs.

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  22. Momentos inseguros,fazem temer a própria sombra. Amo seu modo ímpar de escrever. Uma realidade lírica inconfundível.
    E nossas raízes nos moldam e nos protegem,para que possamos prosseguir. E respirar nas mais delicadas palavras que escrevestes tão belo poema.
    Xeru
    Peço que entenda sua colega aqui,demoro a vim. Mas não esqueço ninguém. Nem deixo de ler,ainda que não comente.

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    1. Vall, querida, não se preocupe com isso. É um prazer recebê-la, dentro de seu tempo e disponibilidade. E muitíssimo obrigada pela gentileza de suas palavras. Bjs.

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