(Escher)
Ali,
na janela que acolheu esperas
que viveu espantos
que pescou estrelas
que criou enigmas para quem passava,
hoje apenas observa...
Ali,
na janela das dúvidas
e também dos sonhos,
do silêncio que ignora pedras
e que a alma areja,
hoje apenas observa...
Ali,
na janela que abrigou espelhos
que foi iluminada por relâmpagos
que vestiu de saudade as recordações,
hoje, observa,
com estranhamento,
a face transformada da vida
Onde estão os rostos de sorrisos fáceis
e a alegria dos caminhantes?
As nuvens brancas que insistiam
em dançar só para inspirar
viagens ao paraíso?
O azul do céu que chamava o mar?
Os pontos de partida e de chegada,
tão bem desenhados?
Onde estão os corações cantantes,
a leveza de passos
e o afinador de instrumentos?
Ali,
na janela que foi liberdade,
um prisioneiro esfrega os olhos
para ver melhor .
Procura o cheiro do vento,
o bulício do cotidiano,
a magia do sonho...
E nada encontra da antiga luz
Marilene