Há frio lá fora.
O inverno chegou
e tão cedo não vai embora.
No vento, ouve-se o sussurro da alma
em crise, atormentada,
gelada de afeto, carente de amor
Há frio por dentro,
nas entranhas, estranhas companheiras
de uma vida que segue,
que passa pelas estações sem olhar o tempo
que se veste de angústia, haja sol, haja lua
e que se sabe nua
É sempre inverno
no avesso do sorriso astuto
que esconde bem o luto.
Sempre sente frio
o corpo que por outro espera
e que, constantemente, se estrutura,
pra recolher,
nos cacos da loucura
uma ternura ausente,
aquela que persiste, sem cansaço,
na tresloucada mente
de quem ainda sofre
por um perdido amor
Marilene
Que mundo danado!
Que rumo, que nada,
Que vida sofrida
Que miséria
Que falta de afeto
Que falta de um teto
Que fome de ser
Um ser, gente, pessoa, cidadão
Onde só existe indiferença
Descrença
Ambição ...
Marilene
(13/05/2003)
Abraçou a saudade
para a derradeira dança,
ao som de conhecida melodia
Rodopiou nas lágrimas
divagou na fantasia e,
na insanidade do momento,
amou, até a exaustão,
a companhia do tormento
Marilene
Visto-me ...
Não temo o espelho
de outros olhos
senão daqueles
aos quais nada se esconde,
e que tudo respondem
à alma inquieta e questionadora:
os meus
Realidade íntima
coberta para proteção
e cuidadosamente selada
Visto-me ...
E como me pede a vida,
oculto a alma
ergo a cabeça
e retomo a caminhada
Marilene
(Slawekgruca)
Temo que permaneçam invertidos
os valores,
que se tornem heróis
os corrompidos,
que figure como exemplo
a falta de dignidade
Temo que o fácil
vire objetivo dos jovens e
que a corrupção seja
uma simples infração,
diante da falta
de efetiva punibilidade
Temo que os braços erguidos
não sejam sinais de luta ou de revolta,
mas de festejo
pelo poder no avesso alcançado,
não servindo à justiça
e dela zombando
Temo que a honra
continue a provocar riso
e que fujam da verdade
os muitos indecisos,
ludibriados, comprados,
esquecidos do bem comum
Marilene