sexta-feira, 29 de abril de 2016

DEIXANDO AS PORTAS ABERTAS

(Jean-Paul Avisse )



Do tempo se quer
o que o tempo não dá,
tempo

Ignora o desejo
de quem o olha passar
com a tola esperança de
outra vez o encontrar,
lá na frente,
à espera

Ao tempo se pede
amplitude
enquanto ele cobra
atitude

E como é ele a vencer
com seus rápidos passos,
indiferente que é
  ao cansaço
 ao banco vazio na praça
ao voo imponente dos pássaros
 ao livro que chama na estante
à melodia que se deseja ouvir,
dou-me um tempo,
assumindo as rédeas
e controlando meus movimentos
para mais leve
seguir

Espero logo voltar
e com ele, 
sem descompasso,
poder conviver
em paz


           Marilene






Ficarei ausente por algum tempo.
Dou-me um tempo, como acima mencionei.
Dentro de minhas possibilidades, 
procurarei visitá-los, embora com passos mais lentos.

Deixo para cada um de vocês, até que retorne, meu carinhoso abraço.


                                                      Marilene



                               

sexta-feira, 22 de abril de 2016

E ASSIM SOMOS ESCULPIDOS ...

(Pintura de Sergio Ferro)



Há pedaços de mim
espalhados por tantos caminhos...
em alguns, nunca estive,
mas alguém os levou
sem pedir anuência

Há pedaços de outros
ao meu corpo agarrados.
Também não os pedi,
mas ficaram,
porque deles gostei
porque os abracei
porque me transformaram

Essas portas abertas
que se nos apresentam
são convites,
como os que ofertamos
com as que não fechamos

Em algumas entramos
e ao sair já não somos
os mesmos,
há um novo entalhe
na escultura da alma
produzido em silêncio
e sem o uso das mãos



      Marilene




sexta-feira, 15 de abril de 2016

ERAM TÃO LÍMPIDAS AS ÁGUAS!

(Anna La Mouton)




Foi o manto de afeto
tão leve,
como breve o momento

A ausência chegou tal qual brisa
sem nada destruir
e o adeus
me passou a cobrir,
sem dor,
com lembranças
 do encantamento

A ternura ficou no olhar
que mirava, à distância,
o infinito...
não se desfez

Ainda tenho
no livro ora aberto
uma pétala viva,
uma parte do sonho de luz
que insistiu em ficar
abraçando outras cores
sem perder a beleza

Da infância distante,
riqueza


                    Marilene





sexta-feira, 8 de abril de 2016

QUANDO SÓ RESTAM CINZAS

( Photography by Cristina Viscu)

                                               

E o vento chegou com força,
dedilhando a natureza
com sua enganadora
melodia

Pintou de cinza o céu
para esconder
as cores da alegria

Fez com que as aves voassem,
apressadamente,
a copiá-lo...
que os animais fugissem,
sem destino,
seguindo seu exemplo...
que os fracos galhos dançassem,
enlouquecidos,
ansiando por descanso 

E como veio, se foi,
satisfeito,
sem se importar com os estragos
e com as lágrimas

Não guarde os cacos
nem as recordações
e sequer faça delas prisão.
Quando a paixão
outra vez se aproximar 
já terá aprendido que, como
tudo o mais,
é vestida de efemeridade

Os lençóis de cetim
também se rasgam
e sobre a cama ficam apenas
as lembranças
de um encontro devastador...
Até o perfume se exaure,
por completo,
quando as portas são fechadas
depois que a fogueira apagou



           Marilene